Olá, Dra. Sylvia! Obrigado por topar fazer essa entrevista com a gente. Para começar, você pode contar um pouco sobre você? Quem é você, qual o seu papel na clínica e em quais áreas você é especialista?
Sim, claro. Meu nome é Sylvia Helena Failache de Oliveira. Sou a mais velha de 3 irmãs, natural de Belém do Pará. Moro em São Paulo há pelo menos 26 anos. Sempre gostei da área da saúde. Desde pequena, sonhava em ser médica, especialmente na área clínica, porque tinha visão do todo. E mesmo pequena, sonhava com a Pediatria (tive um excelente pediatra, que lembro com muito carinho). Depois me apaixonei pela área da Alergologia e Imunologia, porque tinha essa coisa da visão global do funcionamento do corpo.
Fiz minha graduação em Belém na Universidade do Estado do Pará. Já em seguida vim pra São Paulo fazer residência. A primeira foi em Pediatria na Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Depois fui me subespecializar em Alergologia e Imunologia na Universidade Federal de São Paulo, ambas com RQE tanto para Pediatria quanto na área de Alergologia.
Após um certo tempo me senti segura para ter um consultório próprio e me reuni com a Dra. Renata Failache e a Dra. Rosângela Martins Povoleri para iniciar esse novo projeto: a criação de um consultório acolhedor, focado no paciente, no qual trabalho até hoje como médica e diretora técnica das clínicas.
É muito gratificante perceber o nosso amadurecimento como empresárias da saúde e como médica. Foi um processo gradual, no qual saímos de uma sala para um conjunto comercial, depois para uma segunda unidade, e agregando mais colegas, mais colaboradores e mais pacientes-amigos nessa trajetória que considero muito feliz.
1- O que causa alergia no inverno em São Paulo?
No inverno, as alergias respiratórias tendem a se intensificar principalmente pelas variações do fator ambiental. Nesta época, o clima costuma ser mais frio e seco, irritando as vias respiratórias, enquanto o clima seco favorece o acúmulo de poluentes inalatórios, dificultando sua dispersão.
E, por conta do frio, costumamos ficar em ambientes fechados, aumentando a exposição a ácaros da poeira e fungos, que por si só são um dos principais desencadeadores de crises alérgicas respiratórias.
Também é um período com maior circulação de vírus e bactérias respiratórias, como influenza, covid e rinovírus, pneumococos e Haemophilus influenzae B, que agravam os sintomas de alergia.
Uma boa estratégia para minimizar os efeitos disso é a imunização. Manter a carteirinha de vacinação em dia melhora as chances para o enfrentamento do inverno. Outra coisa é manter os ambientes ventilados, evitar o acúmulo de poeira nos ambientes e hidratar as vias aéreas com soro fisiológico.
2- Por que minha rinite piora nos meses frios?
Há vários motivos para uma piora, como o clima seco e frio, que irritam a mucosa nasal, causando inflamação e aumentando a produção de muco. Além disso, no inverno, as pessoas tendem a ficar mais tempo em ambientes fechados, o que aumenta a exposição a ácaros, poeira e mofo — grandes desencadeadores de crises alérgicas —, bem como às infecções virais e bacterianas.
Há também uma particularidade de amplitude térmica que ocorre neste período de transição do outono para o inverno, que dificulta a dispersão das partículas no ar, tornando ele mais carregado de irritantes e poluentes. Além disso, quando transicionamos para as roupas e mantas de inverno, os quais ficam guardados por muito tempo, isso faz com que haja uma piora na rinite, pois há um grande acúmulo de poeira e ácaro nelas.
3- A alergia de pele é mais comum no verão?
É verdade. No verão, as alergias de pele, como dermatites, urticária solar, brotoejas, foliculites e micoses (infecções fúngicas de pele), tendem a aumentar a frequência por fatores como exposição ao sol, suor excessivo, contato com substâncias que podem provocar irritação, como protetores solares, repelentes de insetos e perfumes.
A dermatite de contato pode ser causada por protetores solares, loções pós-sol ou até plantas como a hera venenosa. Já a urticária solar ocorre devido à sensibilidade à radiação ultravioleta, resultando em placas avermelhadas e coceira intensa.
As brotoejas aparecem quando o suor obstrui os poros, causando pequenas bolhas na pele. A foliculite, por sua vez, é uma inflamação dos folículos pilosos, agravada pelo calor e umidade. As micoses superficiais ocorrem por uso prolongado de roupas de banho.
Nesta época do ano em particular, o ideal é manter a pele bem hidratada, usar roupas com fibras de algodão e protetor solar adequado — de preferência hipoalergênico e não comedogênico —, e manter-se seco após os banhos de praia ou piscina.
4- Quais são os sintomas mais comuns de alergia ao calor?
A alergia ao calor, também conhecida como urticária colinérgica, pode causar diversos sintomas desconfortáveis. Os mais comuns incluem: pequenas bolinhas vermelhas na pele; coceira intensa ou sensação de queimação; e manchas vermelhas ou placas no corpo.
Em situações mais graves, pode ocorrer inchaço nos lábios, mãos, pés, olhos ou garganta, além de dificuldade para respirar. Essa condição pode ser desencadeada por fatores como exposição ao sol e é agravada por outros fatores, como estresse, exercícios físicos, banhos quentes e até consumo de alimentos picantes ou bebidas alcoólicas.
5- A umidade pode piorar alergias respiratórias?
Sim, uma umidade elevada pode agravar as alergias respiratórias, pois o ambiente úmido favorece a proliferação de ácaros e fungos, que são alérgenos desencadeadores comuns de crises alérgicas. Além disso, a umidade excessiva aumenta a concentração de partículas no ar, facilitando a entrada de microrganismos nas vias respiratórias.
6- Como evitar crises de alergia no verão?
É comum que, no verão, exista uma piora das alergias provocada pelo calor, suor e até mesmo pelo uso de protetores solares e cosméticos que não são hipoalergênicos. Aqui estão algumas estratégias para evitar crises ao longo do verão:
- Manter a casa bem ventilada e livre de mofo.
- Procurar estar em ambientes climatizados para diminuir a sensação de calor.
- Manter-se hidratado.
- Evitar exposição prolongada ao sol e ao suor, que podem desencadear dermatites.
- Usar roupas leves e de tecido natural como algodão.
- Evitar contato com cloro de piscinas e protetores solares com substâncias irritantes.
7-Que tipo de alergia é mais comum no outono?
No outono, as alergias respiratórias são mais frequentes devido ao tempo seco, alternando com a amplitude térmica e maior concentração de ácaros. Além disso, a queda brusca de temperatura pode aumentar a exposição a ambientes fechados, favorecendo crises.
8- Existe diferença entre alergia respiratória e alergia de pele?
Existe sim! Na alergia respiratória, o acometimento é nas vias aéreas e pode causar sintomas como espirros, coriza e falta de ar. Já a alergia de pele tende a se manifestar através de sintomas como coceira, vermelhidão e lesões cutâneas. O que têm elas em comum é que ambas são respostas exageradas do sistema imunológico a alérgenos e/ou a substâncias irritantes.
9-O que é urticária colinérgica?
A urticária colinérgica faz parte de um grupo de urticárias induzidas do tipo física (ou seja, pode ser reproduzida), provocada pelo aumento da temperatura corporal, como durante exercícios físicos ou banhos quentes. Os sintomas incluem coceira intensa e manchas vermelhas (urticas).
10- Como saber se estou com alergia ao suor ou a algo que comi?
Quando nos referimos ao contexto do suor, isso vai acontecer lesões e coceira em áreas de atrito, como axilas e virilhas. As lesões tendem a serem fixas e durarem dias.
Já se a suspeita clínica é de alergia alimentar, na maioria dos casos são episódios imediatos e geram lesões para além das áreas de atrito. Podem se apresentar clinicamente como urticária (que, em geral, são lesões fugazes), angioedema (inchaço de lábios, pálpebras) e provocar até mesmo uma crise de broncoespasmo em alguns casos.
11- Qual é o melhor tratamento para alergia sazonal?
Antes de mais nada, a alergia sazonal é uma reação do sistema imune a alérgenos presentes no ambiente em determinadas épocas do ano, como pólen de árvores e gramíneas, principalmente durante primavera e outono, onde eles se tornam mais abundantes, provocando sintomas de espirros, coriza, coceira nos olhos e obstrução nasal.
Uma boa estratégia para minimizar os sintomas são o uso de medicação de resgate, como anti-histamínicos; tratamento prévio da rinite com corticosteróides tópicos; lavagem nasal com soro, para hidratar e proteger as mucosas nasais e remover os alérgenos das vias respiratórias; evitar a exposição aos alérgenos, como manter janelas fechadas em dias de alta concentração de pólen.
Já tem vários aplicativos que informam a polinização e informam quando há aumento da concentração deste.
Mas o melhor tratamento, sem dúvida, é o uso de Imunoterapia (vacinas de alergia), no intuito de reduzir a sensibilidade ao alérgeno ao longo do tempo, pois é altamente eficaz!
12-Quando devo procurar um alergista?
Quando os sintomas se tornam frequentes, como espirros, coceira, falta de ar ou reações cutâneas, é importante consultar um alergista. Além disso, se os sintomas interferem na sua qualidade de vida ou não melhoram com medidas caseiras, a avaliação médica é essencial, até mesmo para evitar possíveis complicações de asma, rinite ou dermatites, por exemplo.
13-Crianças sofrem mais com alergias em determinadas épocas do ano?
Sim, e existem vários fatores para isso acontecer, pois seu sistema imune ainda é imaturo. Isso significa que, após o contato com o alérgeno, seus sintomas podem ficar mais intensos quando comparados aos adultos.
Há maior exposição a ambientes fechados — escolas, por exemplo —, onde há maior concentração de alérgenos e agentes infecciosos. São mais sensíveis a baixas temperaturas e umidade, que podem ressecar as vias respiratórias.
E, no inverno, com a chegada do frio, roupas e cobertores que ficaram guardados por meses podem conter grandes quantidades de ácaros e poeira, desencadeando crises alérgicas importantes nesse período.
14- Existe relação entre poluição e alergias em São Paulo?
Sim, a poluição do ar em São Paulo está acima dos níveis recomendados pela OMS. Partículas poluentes aumentam a inflamação das vias aéreas e podem desencadear crises de alergia.
Cerca de 30% da população mundial tem algum tipo de alergia, e esse aumento coincide com a escalada das mudanças climáticas. Isso tem sido uma séria discussão entre os alergologistas do Brasil. Isso se deve à alta taxa populacional, ao tráfego intenso, indústrias e queimadas.
O Brasil ocupa o oitavo lugar em poluidor de plásticos do planeta (isso significa quase 1 cartão de crédito por semana inalado e digerido), e São Paulo está no topo das cidades mais poluídas. Isso é alarmante!
15- Ar-condicionado causa ou piora alergia?
O ar-condicionado não causa alergia, porém pode complicá-las se não for bem higienizado, pois acumula poeira, ácaros e fungos.
Contudo, modelos com filtros HEPA podem ajudar a melhorar a qualidade do ar e reduzir alérgenos.
A manutenção regular é essencial para evitar o agravamento dos problemas respiratórios.